Compartilho com vocês mais um texto de um amigo que acompanha de perto todo esse universo paralelo. Vale e muito a reflexão. O que vem sendo feito à longo prazo? Na verdade só sofremos com o resultado final de tudo isso.
Começo esse
texto parafraseando com um dos grandes pensadores do império romano, que
inspirou o desenvolvimento da tragédia e da dramaturgia européia “Sêneca” que
dizia: "a leitura nutre a inteligência”, trazendo para os dias de hoje, as
crianças precisam de leitura, mas também precisam nutrir seus corpos esguios e
maltratados pela fome, muitas vezes degradados desde nascituros pelas drogas
consumidas por sua genitora, e ao virem ao mundo se deparam com o ciclo de
violência incrustado na sociedade que são obrigados a conviverem, para eles os
estampidos, ou sangue derramado nas vielas de barro batido, fazem parte de um
espetáculo macabro, que tem cada vez mais telespectadores, e perfaz da rotina
diária dos que vivem à margem da sociedade.
Quando começa
a andar, essa criança tem duas obrigações a fazer: correr da violência, e andar
aos semáforos para se tornarem pedintes. Quando não são obrigados a venderem
seus corpos para se alimentarem, ou para alimentar os cartéis de drogas
existentes, e que a sociedade teima em fingir que não existe, até que algum
ente querido seja vitimado por esse mal moderno, e os “formadores de opinião”
achem desculpas para os” coitados” e culpem
os “marginais” por destruírem seu lares.
Como cobrar
que essas crianças, não potencializem a violência, se na grande maioria dos
casos, o programa dominical destas é, visitar parentes, que se encontram segregados
nas penitenciárias, e que o exemplo visto por elas nesses “passeios”, e a prova
cabal da falência do Estado. Que desde bebês tem suas fraldas revistadas, e
aprendem que os agentes aplicadores da lei são seus inimigos, pois “afastam” os
seus familiares, e ainda os mantêm presos. Ao contrário de outrora em que esses
mesmos agentes eram vistos como exemplos de conduta ilibada e eram exemplos a
serem seguidos, mas hoje são vistos como inimigos diretos e causadores dos
principais males vividos por elas.
E por pior que
pareça eles tem uma “esperança” nas visitas, pois os parentes que antes tinham
que lutar igual a eles para se alimentar, se esconder para permanecerem vivos,
e tinham o estudo como utopia, hoje por mais incrível que seja, tem direito às “refeições
diárias”, tem a segurança como obrigação estatal, e pasmem são alfabetizados, ou seja,
para muitos que se encontram nos “calabouços”, a vida dentro do cárcere pode
ser “melhor” do quê fora deles, pois os direitos previstos na CF, muitas vezes
é mais fácil ser cumpridos na prisão do que fora dela.
Por esse
motivo, a violência segue numa escalada gigantesca, pois há uma inversão de
valores sociais da base familiar para aqueles que vivem escondidos dentro dos
“bunkers”, que são criados a cada dia, dentro da nossa sociedade, os bandidos
são cada vez mais popularizados e endeusados, a cada dia aparece mais um “pixote”, um “Lucio Flávio” ou até mesmo uma
“lili carabina”, seja qual for o nome que se dê, ser bandido onde a falta do
Estado é crônica, e sinônimo de status, por esse motivo cada vez mais pré
púberes se iniciam na criminalidade, seja pela inépcia das leis, seja por
complacência estatal.
Por que, não
se obriga as prefeituras, Estado ou união, a alfabetizarem as suas crianças, por
que a sociedade não deixa de dar essa prova cabal de sua incompetência ao fazer
daqueles que seriam o nosso futuro experimentarem cada vez mais cedo o fel da
discriminação e do descaso, por que não deixamos de empurrar o nosso futuro
para os cemitérios ou nosocômios, por que não assumimos a nossa culpa, e tentamos
trazer, saúde, educação, lazer e segurança para nossas crianças, e com isso
impedimos que eles se tornem nossos futuros “clientes” nos presídios.
Espero que
cada um de nós ao olharmos para as nossas famílias possamos ter a sensação de dever cumprido, para
conosco e com a sociedade em que vivemos, pois aqueles que nós fechamos os
olhos para não enxergarmos hoje, pode ser uma
parte triste da nossa história amanhã, como algozes dos nossos entes
queridos, ou como uma nódoa que mancha de forma irretratável as nossas vestes
carnais, e que se locupletam do descaso de outrora.
Por: VITOR GOMES
Bacharel de
Direito, Pós Graduado em Política e Estratégia e Agente Penitenciário do Estado de Alagoas.
Pura verdade...é preciso parar de ofuscar a realidade da nossa sociedade brasileira.Parabéns pela expansiva abordagem deste texto.
ResponderExcluirA omissão estatal que deixa os menores de hoje a mercê das escolas da marginalidade, faz com que os mesmos se potencializem como tais e se tornem nossos futuros clientes.Texto Excelente. Com autoria de quem conhece de perto o sistema prisional. Parabéns.
ResponderExcluirÓtimo texto e bela visão daquilo que a sociedade teima à esconder e tenta não vê,infelizmente enquanto nada for feito lá na raiz do problema a tendência é piorar,Parabéns mais uma vez ao autor do texto
ResponderExcluirCoincidência, estou em curso de formação pela segunda vez e muitos dos temas abordados nas diversas matérias apontam a ausência do Estado na formação primária básica de nossas crianças e adolescentes. Tratar a violência com repressão só fará aumentar o tempo e distância do objetivo maior que é de uma sociedade austera, com garantias socias e no final de tudo, menos violenta. Ainda cabe dizer que toda mudança parte do cidadão, que tem a maior das armas na ponta dos dedos: o voto!
ResponderExcluirParabenizo ao AUTOR DO TEXTO, pelo seu conhecimento e pela forma de enfatizar tão bem a realidade da Sociedade e Estado. Ressalto a todos os que leram e cometeram a importância em divulgarmos este texto, pois é preciso que estas palavras sejam degustadas por todos, precisamos fazer a nossa parte, gritar, falar e tentar que todos os Governares e familiares mudem esta realidade que nos atormenta. As crianças do nosso País merecem uma chance e nos somos responsáveis por isso.
ResponderExcluirÓtimo texto. Realmente... Descreve de uma forma que nos leva a refletir sobre a culpa que existe em cada um de nós e sobre a falência do Estado perante a omissão de toda população.
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